Em 2022, o Brasil passou por uma série de eventos políticos e sociais que evidenciaram as desigualdades marcantes do nosso país. Além dos problemas causados pela pandemia, somados ao impacto negativo do governo federal sobre as políticas sociais nesse contexto, as eleições ocorreram em um cenário de polarização, desinformação e disseminação de ideias antidemocráticas. Nesse cenário, a reflexão crítica sobre desigualdades  é fundamental para orientar as políticas públicas. 

O Observatório das Desigualdades produziu uma série de materiais sobre temáticas variadas, com destaque para as questões de gênero, raciais e políticas. Para relembrar nossas principais produções de 2022, elaboramos uma playlist com canções que remetem aos  temas trabalhados ao longo do ano. 

Você pode acessar a playlist no Spotify por meio do link <https://open.spotify.com/playlist/6g2t3YLKfs35R4CKXkyOz4?si=tjrZPxw-QWGFYQk6qxlYow>. 

 

Gênero

Um dos principais temas abordados pelo Observatório em 2022 foi a desigualdade de gênero, com recortes que vão desde a participação feminina na política até questões de saúde, passando por diversas outras áreas. A canção “Uma mulher”, de Ana Costa e Zélia Duncan, traz a dura realidade enfrentada pelas mulheres brasileiras, especialmente as pobres e negras, de esgotamento e desumanização pela sobreposição entre as jornadas de trabalho e as obrigações cotidianas. 

 

Mais um dia vem

Com ele uma mulher vai levantar

No rosto a água lava

O que não deu pra descansar

O dia tá chamando no portão

Quanto tempo faz

Que ela nem se olha devagar?

Barraco sem espaço

Prum espelho pendurar

Criança chora e haja colo pra ninar

No meio do dia sente esvaziar-se

Sabe que seu corpo quer sonhar

Mas ela está só, tem que segurar

A realidade vem gritar

E a noite é linda, escura como sua pele

E ela chora, como se fosse cantar!

E a noite é linda, escura como sua pele

E ela canta, como se fosse chorar!

(Uma mulher – Ana Costa e Zélia Duncan)

 

Acesse os links abaixo para saber mais sobre o assunto: 

 

Política

Dentre os acontecimentos políticos que marcaram o último ano, destacam-se os resultados das eleições, com avanços e retrocessos no Legislativo brasileiro, e, nesse contexto, uma reflexão sobre a importância da democracia a partir dos retrocessos e dos crimes cometidos pela ditadura militar. Para além do foco no Brasil, discutimos a rejeição da nova Constituição do Chile e os possíveis impactos da proposta, reconhecendo a importância de compreender o cenário da América Latina, em que nosso país se insere. Nesse sentido, a música “Canción por la unidad de latino-america”, composta por Pablo Milanés e reinterpretada por Milton Nascimento e Chico Buarque, resgata o passado em comum dos países latino-americanos e as possibilidades de aproximação e reconhecimento de unidade entre eles. 

 

Que distância tão sofrida

Que mundo tão separado

Jamás se hubiera encontrado

Sin aportar nuevas vidas

E quem garante que a História

É carroça abandonada

Numa beira de estrada

Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre

Cheio de um povo contente

Que atropela indiferente

Todo aquele que a negue

É trem riscando trilhos

Abrindo novos espaços

Acenando muitos braços

Balançando nossos filhos

(Canción por la unidad de latino-america – Pedro Pablo Milanés Arias)

 

Acesse os posts sobre o assunto em: 

 

Raça

O ano de 2022 começou com o brutal assassinato de Moïse Kabamgabe, um jovem congolês, no Rio de Janeiro, como uma manifestação da violência que persegue pessoas negras no Brasil. A partir desse e de todos os outros casos recorrentes de racismo, é necessário e urgente pensar sobre caminhos possíveis para a superação da discriminação e da violência por cor. A música “Boa esperança”, do Emicida, traz reflexões sobre o racismo e as vivências de pessoas negras. 

 

Por mais que você corra, irmão

Pra sua guerra vão nem se lixar

Esse é o X da questão

Já viu eles chorar pela cor do orixá?

E os camburão o que são?

Negreiros a retraficar

Favela ainda é senzala, Jão

Bomba relógio prestes a estourar

(Boa esperança – Emicida)

 

Abaixo estão as produções do Observatório das Desigualdades sobre racismo: 

 

Cultura

No ano que se passou, a música brasileira perdeu uma de suas artistas de maior destaque: Gal Costa faleceu no dia 09 de novembro, deixando uma história de resistência política e quebra de padrões, em defesa da liberdade sexual e da expressão feminina por meio da arte. Em dezembro, Milton Nascimento se despediu dos palcos e, em homenagem a ele, o post sobre os 50 anos do “Clube da Esquina” analisa o lançamento do álbum no contexto da ditadura. 

 

O que vocês diriam dessa coisa que não dá mais pé?

O que vocês fariam pra sair dessa maré?

O que era pedra vira corpo

Quem vai ser o segundo a me responder?

Andar por avenidas enfrentando o que não dá mais pé

Juntar todas as forças pra vencer essa maré

O que era pedra vira homem

E um homem é mais sólido que a maré

(Saídas e bandeiras nº 2 – Lô Borges e Milton Nascimento)

 

Alguns posts relacionados à cultura podem ser encontrados nestes links:

 

Diversidade

Outra temática cada vez mais discutida é a diversidade sexual, explorada no 15° boletim. A canção “Vá se benzer”, de Preta Gil e Gal Costa, critica a homofobia e os preconceitos que marcam o modo como pessoas LGBTQIA+ se inserem na sociedade, além de outras minorias. 

 

Sou eu

Que nasce devendo, que corre

Que é gueto, que é gay, que é pobre

Homem e mulher

Vá se benzer

Não banque o santo

Eu não pareço com você

Não acredito no que vejo na TV

Meu sangue é forte, de origem nobre

Negro, branco, índio eu sou

(Vá se benzer – Preta Gil e Gal Costa)

 

Leia as produções sobre diversidade nos links abaixo:

 

Trabalho

A temática do trabalho foi tratado pelo observatório em alguns posts. O mercado de trabalho no país acaba por refletir grandes desigualdades, sendo marcado, em princípio, pela elevada desigualdade de rendimentos entre trabalhadores. “Trabalhadores do Brasil”, de João Nogueira, mostra a realidade árdua do trabalhador brasileiro, de passar por diversos empregos e muitas vezes não conseguir se sustentar.

 

Êta vida, que vida dura, senhor!

Êta vida, que vida dura.

Eu não conheci pai nem mãe

A vida foi muito cruel

Dormi em calçada e degrau

Comia pão duro e pastel

Eu fui vendedor de jornal

Depois catador de papel

Bilheteiro federal

Também fui chofé de aluguel

Por fim camelô da central

Mais tarde eu entrei pro quartel

(Trabalhadores do Brasil – João Nogueira)

Veja 0s posts do Observatório das Desigualdades sobre trabalho:

 

Renda

A desigualdade de renda e a pobreza foram assuntos de post, nota técnica e vídeo do observatório em 2022. É essencial conhecer as condições de renda da população para entender as melhores formas de enfrentar a pobreza e melhorar o seu bem-estar.

 

Meu sertão vai se acabando

Nessa vida que o devora

Pelas trilhas só se vê gente boa indo embora

[…]

A virar em cruz de estrada

Prefiro ser cruz por cá

Ao menos o chão que é meu

Meu corpo vai adubar

Se doente sem remédio, remediado está

Nascido e criado aqui

Sei o espinho aonde dá

Pobreza por pobreza

Sou pobre em qualquer lugar

A fome é a mesma fome que vem me desesperar

E a mão é sempre a mesma que vive a me explorar

(Pobreza por pobreza – Luiz Gonzaga)

 

Acesse as produções do Observatório das Desigualdades sobre pobreza:

 

Outras produções do Observatório das Desigualdades em 2022 – sobre segurança, educação, renda, segurança alimentar e habitação – estão listadas abaixo. 

Segurança (textos produzidos por meio da parceria com o Núcleo de Estudos em Segurança Pública)

Educação

Segurança alimentar

Habitação

 

Assim, convidamos você a escutar as músicas selecionadas para a playlist. Esperamos provocar reflexões sobre os acontecimentos reportados pelo Observatório durante o ano de 2022 por meio da música, que também é uma forma de expressar, criticar e denunciar as desigualdades que assolam a sociedade brasileira.

 

Autores: Alexandre Henrique, Anna Mattos e Lorena Auarek, sob a orientação do professor Bruno Lazzarotti.

 

*O Observatório das Desigualdades é um projeto de extensão. O conteúdo e as opiniões expressas não refletem necessariamente o posicionamento da Fundação João Pinheiro ou do CORECON – MG.

 

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