Segundo dados do IBGE, o abandono escolar no Brasil atinge mais a população negra do que a branca. É o que nos mostra reportagem publicada na Folha de São Paulo, em 1º de setembro deste ano.  Assim, se a média geral de jovens entre 19 e 24 anos que não conseguiram concluir o ensino médio em 2018 já é alta (um terço desta parcela populacional, resultado similar ao dos homens brancos), o panorama entre os negros é ainda pior: quase metade (44,2%) dos negros homens dessa faixa etária não concluiu a etapa.

Se analisarmos a situação das meninas, que normalmente apresentam taxas de escolaridade mais elevadas, a disparidade persiste. Cerca de 30% das meninas negras não concluíram o ensino médio, enquanto a taxa é de 18,2% entre as brancas.

Segundo a reportagem, as disparidades também são encontradas nos ensinos básico, fundamental e superior. Segundo o superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, a definição para as causas dessas desigualdades exige maiores estudos, mas a recorrência de evidências indica processos estigmatizantes e estruturais: “Pode ser estigma dos professores [com relação aos jovens negros, como a indisciplina], práticas cotidianas de exclusão, ambientes autorreferidos que produzem preconceito, leituras pretéritas que não são educacionais, e provavelmente uma combinação de todos esses fatores”.

Além das razões apontadas, jovens com melhores condições econômicas podem apenas estudar e realizar atividades que melhoram o seu desempenho, enquanto grande parte da população, em especial os negros, precisa trabalhar para ajudar no sustento da casa.

No governo de Jair Bolsonaro, foi extinta a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, esvaziando ações de diversidade, como direitos humanos e relações étnico-raciais, além de extinguir a área responsável pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Analisando a realidade brasileira, temos que a população negra é a que mais sofre com a pobreza: três em cada quatro pessoas entre os 10% mais pobres do país são negras, segundo dados do IBGE de 2015.  Logo, tendo em vista que a exclusão escolar ajuda a perpetuar desigualdades, a medida apresenta um significativo retrocesso social.

Para saber mais sobre os mecanismos que operam na realidade brasileira aprofundando as desigualdades educacionais, acesse o boletim nº 5 do Observatório das Desigualdades, disponível em: http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/wp-content/uploads/2019/08/OD5-1.pdf.

Análise feita com base na reportagem: “4 em cada 10 jovens negros não terminaram o ensino médio”, publicada na Folha de São Paulo em 01/09/2019, disponível em:

<https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/09/4-em-cada-10-jovens-negros-nao-terminaram-o-ensino-medio.shtml>

 Autor: Rafael Campanari [graduando em Relações Econômicas Internacionais na UFMG], com coordenação de Bruno Lazzarotti Diniz Costa [professor e pesquisador – FJP]

Deixe um comentário