Os gráficos que selecionamos para este post decorrem de trabalho de HakanYilmazkuday. É sobre os EUA, mas bem poderia ser sobre o Brasil. Eles reforçam um ponto em que temos insistido aqui. Temos demonstrado no Observatório que, para que o combate à pandemia seja eficaz, é preciso levar em conta a desigualdade social. Entre outros motivos porque, se o distanciamento social é a medida mais eficaz de proteção, os grupos sociais mais vulneráveis e as ocupações mais precárias são os que têm piores condições de arcar com os custos e de compatibilizar suas atividades com o teletrabalho. Assim, medidas de proteção social e garantia de renda são parte indispensável do arcabouço de instrumentos de enfrentamento da epidemia.

No dia 11 de março a OMS declarou que estávamos passando por uma pandemia e no dia 13 os Estados Unidos declararam Emergência Nacional. Desde então, notou-se que, por lá, a COVID 19 atinge proporcionalmente mais os negros – a cada 100 infetados, cerca de 47 são negros. HakanYilmazkuday quis investigar o porquê dessa desproporção, e o resultado deste estudo está nos gráficos[1] apresentados nessa publicação.

O autor supôs que o acometimento desigual pela doença era consequência – entre outros fatores –  de diferenças no isolamento social, considerando que essa é a medida mais efetiva de proteção. Assim, investigou o grau de adesão de diferentes grupos ao isolamento social – ele observou as categorias de raça/etnia, renda e escolaridade. A pesquisa se baseou nas localizações de smartphones entre 21 de janeiro de 2020 e 7 de abril de 2020.

Pelos gráficos, notamos que, a partir da primeira quinzena de março, o isolamento ocorreu de forma extremamente desigual, em todas as categorias analisadas. Em relação à variável renda, entre os 25% mais ricos da população o isolamento foi 33% mais intenso em comparação com a metade mais pobre.Yilmazkuday também observou que os 25% mais escolarizados aderiram 53% mais ao isolamento em comparação aos 25% com menos anos de estudo. Os asiáticos se isolaram 21% mais do que os negros e hispânicos e 15% mais que os brancos.

O artigo não investiga por que os grupos experimentam o isolamento social de formas tão diferentes. Mas o autor sugere: a necessidade de trabalhar na rua (para os grupos mais vulneráveis) somada à possibilidade que alguns têm de trabalhar em casa pode indicar um caminho para entender este fato. O inegável é que os resultados apontam para a necessidade de elaborar políticas públicas específicas para estes grupos. Apesar de se referir aos EUA, os dados ressaltam lições importantes para a nossa realidade também. No Brasil, este estudo aponta para a necessidade do aprofundamento das políticas de proteção social, porque há um grande contingente de trabalhadores informais ou ocupações que não permitem teletrabalho e que, sem auxílio, não podem aderir ao isolamento social.

 

 

Notas:

[1]Os dados dos gráficos foram obtidos a partir de uma média móvel de 7 dias.

 

Fontes:

HakanYilmazkuday; COVID-19 and Unequal Social Distancing across Demographic Groups. Disponível em: https://yilmazkuday.blogspot.com/2020/04/covid-19-and-unequal-social-distancing.html?fbclid=IwAR06Ldhui8Pb4qVFK6ApS0iN9EhqIyk3r8ZusJ4pg4jbvkEfdJxKNxIvB-k.

HakanYilmazkuday; COVID-19 and Unequal Social Distancing across Demographic Groups. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3580302.

 

 

Autora: Mariana Parreiras Candido [graduanda em Administração Pública na Fundação João Pinheiro], sob a orientação de Bruno Lazzarotti [pesquisador na Fundação João Pinheiro]. 

 

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