Chegado o último post desta série que se iniciou nesta semana com dicas de livros, passando por dicas de álbuns, hoje iremos trazer algumas produções audiovisuais que nos fazem refletir sobre as relações raciais, suas desigualdades e a importância da valorização da cultura negra. 

 

1 – Orí – Raquel Gerber (1989)

https://drive.google.com/file/d/1PBQutmbrgakx63IUUD8qOgIM2wKVId4n/view

 

Nossa primeira dica de hoje se trata do documentário Orí, de Raquel Gerber, que toma como pano de fundo a história de vida de Beatriz Nascimento, trazendo um panorama da articulação dos movimentos negros ao final da década de 1970, até o fim da década de 1980. Também sobre a vida de Beatriz Nascimento, indicamos o livro de Alex Ratts “Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento”: https://www.imprensaoficial.com.br/downloads/pdf/projetossociais/eusouatlantica.pdf, e o evento relaizado em 17/11, pelo Grupo de Pesquisa Estado, Gênero e Diversidade (Egedi) da FJPi, sobre o pensamento da autora: https://www.youtube.com/watch?v=chk2NsgC58Q

Este documentário é um importante registro deste período e dessa historiadora que deve ser revisitada, por suas contribuições em pensamentos sobre a articulação entre raça, classe e gênero. É também possível apreender o debate sobre quilombos urbanos, sobre a construção de novos conceitos e abordagens que ainda nos atravessam por meio da história oficial e da forma como construímos nosso pensamento de forma colonializada.

 

2 – Bluesman – Baco Exu do Blues (2019)

https://www.youtube.com/watch?v=-xFz8zZo-Dw

 

Nossa segunda dica é um curta que venceu o Gran Prix (grande prêmio) do Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade, um dos mais importantes do mercado de publicidade do mundo: Bluesman, de Baco Exu do Blues, dirigido por Douglas Ratzlaff Bernardt.  Neste curta, são utilizados trechos de músicas do álbum homônimo de Baco, que não entrou na nossa dica de ontem, mas poderia: https://open.spotify.com/album/0QMVSKhzT4u2DEd8qdlz4I?si=g4n1eoccQ62DxtE6l0T94w&utm_source=copy-link

A produção desenvolvida ao longo do curta aponta para elementos do racismo estrutural, da valorização da cultura negra, explorando e desconstruindo imagens estereotipadas de pessoas negras, bem como os lugares e espaços que o racismo estrutural trata de marcar. Neste sentido, é uma produção que vale ser vista, revista, sempre com a possibilidade de novas percepções que se abrem ao compreendermos a dinâmica das relações raciais no Brasil. 

Neste sentido, reproduzimos abaixo uma tabela presente no Boletim nº 07 do Observatório das Desigualdades (http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Boletim-n%C2%BA7.pdf). Nesta tabela, é possível perceber a representação de fatores contingenciais que marcam a forma como as relações raciais são vivenciadas. Chama atenção o “Lugar” e as “áreas duras”, que correspondem ao mercado de trabalho, espaço no qual o pacto narcísico da branquitude opera de forma mais direta e estruturada. Por isso é importante que tenhamos cada vez mais produções com estas e reproduções em nossa vida cotidiana, de desconstrução dessas estruturas. 

 

 

Além disso, o quadro representa a complexidade das relações raciais no Brasil e a importância de nos aprofundarmos nos debates, estudos e avançarmos em propostas que de fato avancem sobre essa pauta, sempre em articulação com classe e gênero, um elemento importante que deveria ser adicionado de forma transversal às questões apontadas na tabela.  

 

3 – Hair Love – Matthew A. Cherry (2019)

https://www.youtube.com/watch?v=kNw8V_Fkw28

 

Nossa terceira dica também é um curta, premiado na cerimônia do Oscar de 2020: Hair Love, que retrata um importante elemento de representatividade, e que também pode ser visto no livreto que acompanha o livro “Mulheres negras e gestoras: porque sim”, presente no primeiro post desta série: “História da Malu”: https://drive.google.com/file/d/1F-2QXWjy8zVSFo-z38t5nbAxFmnqzdoA/view

Ao ver o curta, é importante refletir sobre elementos estéticos que marcam as relações raciais no Brasil. Nilma Lino Gomes (2017) [1] apresenta o corpo como um elemento que se destaca nessa dinâmica de resistência sociocultural, mas também se apresenta como opressão e negação. “No caso dos negros, o cabelo é visto como um sinal diacrítico que imprime a marca da negritude no corpo” (GOMES, 2017, p. 194). 

Tratar o cabelo do negro como “ruim” é expressão do racismo e das desigualdade racial que vive o sujeito. Alterações no cabelo, para uma pessoa negra, significa mais do que uma questão de vaidade ou tratamento estético, representam questões identitárias: “O cabelo como ícone identitário se destaca nesse processo de tensão, desde a recriação de penteados africanos, passando por uma estilização própria do negro no Novo Mundo, até os impactos do branqueamento” (GOMES, 2017, p. 112)

Gomes (2017) também discute a questão da identidade negra e aponta que, para que se altere a autoimagem desfavorável dos negros e sua imagem social, é preciso ir além de ações individuais, uma vez que desde a escravidão o homem e a mulher negra carregam o estigma da inferioridade de seus traços estéticos A autora ainda aponta que, no contexto da África pré-colonial, o cabelo era visto como símbolo de status, realeza e poder, e, a partir da escravidão, é visto como símbolo de inferioridade. Entre as muitas formas de violência impostas aos escravos e às escravas ao longo da escravidão, uma delas era a raspagem do cabelo. Para muitas etnias africanas, o cabelo era considerado uma marca identitária, deste modo, sua raspagem significava uma mutilação.

Com essas dicas e reflexões, encerramos essa série de posts, com dicas de livros, músicas e produções audiovisuais, ressaltando a importância de nos aprofundarmos nas leituras, estudos e consumo de outras mídias e produções que apresentem o debate da questão racial, pois essa percepção mais profunda da questão é parte fundamental da nossa formação e permite agir sobre os reais problemas, de forma articulada, inclusive para a formulação de Políticas Públicas. 

Por fim, trazemos como indicação um vídeo produzido anteriormente pelo Observatório das Desigualdades, sobre o tema:  https://www.youtube.com/watch?v=bTo1DIdW1kU

 

Autor: Matheus Arcelo

*O Observatório das Desigualdades é um projeto de extensão. O conteúdo e as opiniões expressas não refletem necessariamente o posicionamento da Fundação João Pinheiro ou do CORECON – MG.

 

[1] GOMES,  Nilma Lino. Sem perder a raiz: Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. São Paulo. Autêntica Editora, 2017.

IMAGEM DA CAPA: Se o cinema é a 7° Arte, quais são as outras? Retirado do blog “Geek Quântico”. Disponível em: https://geekquantico.com.br/se-o-cinema-e-a-7o-arte-quais-sao-as-outras/. Acesso em: 19 de nov. 2021. 

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