Que a crise que assolou o país nos anos de 2015/2016 afetou a ricos e pobres, não é novidade para nós. Porém, enquanto os brasileiros mais abastados já conseguiram virar a página das vacas magras, os mais pobres ainda não. É o que mostra a reportagem publicada neste mês no jornal “El País”, que traz um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas que revela que, depois da tempestade, os 10% mais ricos já acumulam um aumento de 3,3% de renda do trabalho, ou seja, além de superar as perdas, já ganham mais que antes da recessão. Enquanto isso, os brasileiros mais vulneráveis amargam uma queda de mais de 20% da renda acumulada. Se somarmos os últimos sete anos, a renda do estrato mais rico aumentou 8,5% e a dos mais pobres caiu 14%.

Para o pesquisador Daniel Duque, os mais pobres sentem muito mais o impacto da crise pela vulnerabilidade social e pela dinâmica do mercado de trabalho. Isso porque, havendo menos empresas contratando e demandando trabalho e mais pessoas procurando, quem tem mais experiência e anos de escolaridade acaba se saindo melhor do que quem não tem. Essa dinâmica reforça a posição social relativa de cada um, explica o pesquisador.

Comparando os dois gráficos abaixo, que mostram as séries dessazonalizadas (quando se exclui os efeitos das variações típicas de cada período do ano), é possível observar o aumento da desigualdade de renda no Brasil nos últimos anos. Assim, em meados de 2014, os 50% mais pobres se apropriavam de 5,74% de toda renda efetiva do trabalho. No primeiro trimestre de 2019, a fração cai para 3,5%. Para esse grupo que controla uma quantia pequena do montante existente, essa redução de apenas 2.24 pontos percentuais representa, em termos relativos, uma queda de quase 40%. Enquanto isso, o grupo dos 10% mais ricos da população, na metade de 2014, recebia cerca de 49% do total da renda do trabalho – e vinha apresentando redução nessa parcela, ao longo dos anos anteriores. No início de 2019, sua fração chega a 52%.

Para Rogério Barbosa, pesquisador pós-doutor do Centro de Estudos da Metrópole (USP) e visitante da Universidade Columbia, a desigualdade de renda aumenta por dois motivos nos últimos anos. Primeiro, porque muitas das pessoas que conseguem reingressar no mercado vão para o setor informal e inseguro, portanto preocupados em reduzir gastos, inibindo a circulação de dinheiro na economia. E, por outro lado, as pessoas que ficaram no setor formal têm colocações melhores, e, eventualmente, chegam a melhorar seus ganhos. “Desigualdade não é apenas ganhar ou perder, é ganhar mais rápido. Se alguém se distancia do restante da população, aumenta a desigualdade. O topo do mercado formal está se distanciando da base de forma muito rápida, algo que não víamos desde o começo de 1990”, explica Barbosa.

 

Análise extraída da reportagem disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/06/economia/1559851573_724060.html?id_externo_rsoc=TW_BR_CM&hootPostID=e5521126ee4ae00c7267fe90337cb53a

Autora: Luísa Filizzola Costa Lima [graduanda em Administração Pública na FJP], com coordenação de Bruno Lazzarotti Diniz Costa [professor e pesquisador – FJP]

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