Ao longo desta semana, publicamos uma série de materiais relacionados à desigualdade racial, denunciando diferentes dimensões do racismo no Brasil, que reflete um passado perverso de exploração, desumanização e marginalização, ainda enraizado nas instituições públicas. Mais que um encerramento das produções do Observatório das Desigualdades sobre o Dia da Consciência Negra, este post propõe uma continuidade das reflexões apresentadas, a partir de produções que discutem o racismo e suas consequências em nossa sociedade. Para isso, convidamos pesquisadoras e pesquisadores da Fundação João Pinheiro a compartilharem obras que abordam a questão racial, indicando a relevância do trabalho para a temática em destaque. 

A professora e pesquisadora Rosânia de Sousa indica dois livros que discutem desigualdade racial e identidade. 

Cida Bento. O Pacto da Branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 1ª edição. 

“Neste livro, a autora explica o que é o pacto, pacto este não verbalizado, mas que mantém e fortalece homens brancos em lugares de poder, no país, em todas as instituições, sejam elas públicas ou privadas. O pacto fortalece o grupo de iguais e exclui os demais, os diferentes, levando à perpetuação das desigualdades. O livro nos faz refletir sobre as relações entre brancos e negros no Brasil e as marcas daí geradas. Nos aponta também para a necessidade de uma repactuação dessas relações em bases de maior justiça e equidade racial.”

Neusa Santos Souza. Tornar-se Negro ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.1ª edição, 6ª reimpressão.

“Neste livro, publicado, inicialmente, em 1983 e suas reimpressões nos mostram a importância da discussão sobre o racismo e seus efeitos psíquicos e o custo emocional, muito alto, em negros e negras. A autora nos apresenta a experiência de ser negro(a) em uma sociedade branca e as dificuldades de ascensão social daí decorrentes, uma vez que o único caminho de mobilidade social para o negro(a) é a introjeção do padrão branco. De acordo com a autora, ´saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade(…)´.”

A professora e pesquisadora Nícia Raies indica a obra poética de Miriam Alves, em um livro que inclui produções de resistência ao racismo.

Miriam Alves. Poemas Reunidos. São Paulo: Círculo de Poemas, 2022.

“Indico o livro ‘Poemas Reunidos’ de Miriam Alves (Editora Círculo de poemas), que reúne quatro décadas de sua produção poética. O livro inclui seus poemas publicados nos Cadernos Negros, produção literária independente de resistência aos obstáculos encontrados pelos autores e autoras negras no mercado editorial brasileiro, além de seus dois livros e poemas publicados em antologias e revistas.”

Kelly de Souza indica uma coletânea de contos de Conceição Evaristo, que carrega a experiência e a perspectiva de pessoas negras. 

Conceição Evaristo. Olhos D’Água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014. 

“Minha indicação é o livro ‘Olhos d’água’, de Conceição Evaristo. O livro de contos publicado em 2014, traz consigo todo o poder da ‘escrevivência’ da autora. Apresentando mulheres e homens negros como protagonistas com subjetividades frente aos percalços da vida, o livro é indispensável para quem busca uma boa leitura repleta de representatividade e sensibilidade, assim como toda a obra da autora.”

Otávio Balbino, estudante de Administração Pública, sugere a leitura da antologia “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe”, inspirada na primeira mixtape do Emicida, em que o artista passa por temas como o racismo e a violência. 

Emicida. Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…: Antalogia inspirada no universo da mixtape. LiteraRUA, 2019. 

“Penso, talvez citar não seja necessário

O fato de que já fui a mais velórios que aniversários

De que os melhores realmente vão

De que a Terra não é lugar pra quem tem bondade no coração

Às vezes é difícil acreditar

Não tem palavra que possa confortar

Não tem peito que possa comportar

Vejo como se fosse um rolê e do nada ‘cê fosse voltar

Fico feliz, tio, de lembrar que nóis sorriu da última vez

Porra, hoje faz mais de um mês

É complicado e em cada vez que eu me lembro

Minhas manhãs se tornam sós num novo 11 de setembro

Menino bom, sonhador, dedicado, de valor

Inspiração pros que tão na de riscar, de compor

De dançar, de expor, se entregar pro que for

Pra lutar sem temor, sem lucrar, por amor”

(Essa é pra você primo – Emicida)

 

Por fim, deixamos nosso convite para conhecer as obras indicadas, estendendo a reflexão do Dia da Consciência Negra para além desta data, como parte de um esforço necessário para o combate ao racismo. Além disso, estão listados abaixo materiais sugeridos para conhecer as temáticas trabalhadas pelo Observatório ao longo desta semana:

  • Post – Dia da Consciência Negra: 483 anos do início da Diáspora Africana no Brasil e sua relevância na construção do país 
  • Desassossego – Episódio 12: Mês da Consciência Negra: representatividade no serviço público brasileiro e o efeito das políticas afirmativas
  • Infográfico: Consciência Negra: Desigualdade Racial no Serviço Público
  • Post – Contra o pacto da branquitude: Minas Gerais precisa enfrentar o racismo e o legado da escravidão

 

*O Observatório das Desigualdades é um projeto de extensão. O conteúdo e as opiniões expressas não refletem necessariamente o posicionamento da Fundação João Pinheiro ou do CORECON – MG

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